sábado, 23 de janeiro de 2010

william shakespeare




SONETO CV


Não chame o meu amor de Idolatria Nem de Ídolo realce a quem eu amo, Pois todo o meu cantar a um só se alia,E de uma só maneira eu o proclamo. É hoje e sempre o meu amor galante, Inalterável, em grande excelência; Por isso a minha rima é tão constanteA uma só coisa e exclui a diferença. 'Beleza, Bem, Verdade', eis o que exprimo; 'Beleza, Bem, Verdade', todo o acento; E em tal mudança está tudo o que primo, Em um, três temas, de amplo movimento. 'Beleza, Bem, Verdade' sós, outrora; Num mesmo ser vivem juntos agora.



SONETO LXXS


e te censuram, não é teu defeito, Porque a injúria os mais belos pretende; Da graça o ornamento é vão, suspeito, Corvo a sujar o céu que mais esplende. Enquanto fores bom, a injúria prova Que tens valor, que o tempo te venera,Pois o Verme na flor gozo renova, E em ti irrompe a mais pura primavera. Da infância os maus tempos pular soubeste, Vencendo o assalto ou do assalto distante; Mas não penses achar vantagem nesteFado, que a inveja alarga, é incessante.Se a ti nada demanda de suspeita,És reino a que o coração se sujeita.


SONETO LXV


Se a morte predomina na bravuraDo bronze, pedra, terra e imenso mar,Pode sobreviver a formosura, Tendo da flor a força a devastar? Como pode o aroma do verãoDeter o forte assédio destes dias, Se portas de aço e duras rochas nãoPodem vencer do Tempo a tirania? Onde ocultar - meditação atroz -O ouro que o Tempo quer em sua arca? Que mão pode deter seu pé veloz, Ou que beleza o Tempo não demarca? Nenhuma! A menos que este meu amorEm negra tinta guarde o seu fulgor.